Segundo a imprensa especializada em concursos públicos brasileiros, no momento há inscrições abertas para cerca de 30 concursos e, apenas em 2013, 80 mil vagas serão disputadas por não menos do que 12 milhões de brasileiros. Diante de números tão vultosos e expressivos, surge a pergunta: que motivo atrai tantas pessoas para estes concursos?
Seria o salário? Provavelmente não! Uma vez que dentre as vagas disputadas por 5% da população brasileira, a maior remuneração gira em torno de R$ 21,7 mil, mas a grande maioria recebe uma média de R$ 2 mil. Então, a dúvida persiste: qual seria o real motivador?
No depoimento de alguns “concurseiros” – nome dado às pessoas que fazem dos concursos e, consequentemente, dos cargos públicos uma estratégia de ascensão social – o que mais atrai é a estabilidade, que tem aspectos que são realmente verdadeiros como por exemplo:
· Estabilidade de emprego: uma vez que ainda existem leis que garantem que um funcionário público não possa ser demitido pela simples vontade de seu chefe, como ocorre na iniciativa privada;
· Estabilidade de benefícios: os chamados “auxílios”, tais como, creche, alimentação, transporte, entre outros. Enfim, uma série de penduricalhos adicionados ao salário do funcionalismo público;
· Estabilidade de renda após a aposentadoria: em muitas esferas da administração pública, bem como em muitas autarquias, existem fundos de previdência que se propõem a complementar a renda, assim como os de previdências privadas. Aqui vale ressaltar que houve mudanças nas leis que garantiam que o tesouro público arcasse com essa complementação, portanto, aqueles que são atualmente empossados já não gozam na aposentadoria de salários iguais aos do tempo da ativa.
Há também, no inconsciente coletivo da população, a ideia de certo status por trabalhar no funcionalismo público. Contudo, analisando friamente, não é possível concluir que esta seja realmente uma boa estratégia de ascensão social. E aqui apresento os fatos.
Pessoas que prestam concursos e que realmente têm chances de classificação precisam de dedicação quase exclusiva e uma série de artimanhas para a tão sonhada aprovação. São pelo menos entre 30 e 40 horas de estudo semanais e alguns chegam a estudar até 18 horas por dia. Além disso, a preparação acontece antes mesmo do edital ser publicado e muitos recorrem aos cursinhos e estudam por meses ou até anos. Tudo para atingir o objetivo.
Trabalhando há 4 anos como consultor de resultados, posso afirmar que o empenho e dedicação destas pessoas podem ser comparados a alguns comportamentos de empreendedores de sucesso, como por exemplo:
· Planejamento: para organizar a forma de estudar;
Persistência: para não desistir diante do primeiro fracasso;
Resiliência: para não se abater diante dos concursos nos quais não foi aprovado;
Humildade: para não achar que pode passar em todo e qualquer concurso;
Senso de julgamento apurado: para não dar ouvidos a histórias de sucesso imediato, ao mesmo tempo não estudar demasiadamente, sem respeitar horas de descanso, sono e algum lazer;
Equilíbrio emocional: para não exigir de si mesmo, além das suas possibilidades;
Autoconfiança: para assumir atitude positiva e vitoriosa;
Calcular riscos: para estudar com antecedência e não apenas quando o edital é publicado;
Disciplina e comprometimento: para criar uma rotina de estudo sistemática e abrir mão da vida social, lazer e outros regalos da vida;
Busca de informações: para saber o que tem caído nos concursos que estão ocorrendo;
Responsabilidade financeira: para calcular se a renda atual é suficiente pra subsidiar todo esse tempo de estudo e ainda se o salário almejado no serviço público será capaz de financiar os sonhos.
Será que estes concurseiros, com todos os comportamentos empreendedores, trabalhando para si mesmos, não ganhariam muito mais do que R$ 21 mil e poderiam ter um futuro com muito mais estabilidade e liberdade?
Pessoas que apresentam essas características de comportamento são, na verdade, empreendedores, cujo céu é o limite para suas perspectivas, com rendimentos que podem ser ilimitados.
O lado nefasto da estabilidade do serviço público é a letargia que a falta de perspectiva de crescimento profissional produz, de forma que, com toda certeza, nas fileiras do funcionalismo público existem profissionais que seriam brilhantes se tivessem no mundo privado, trabalhando e gerando riqueza pra si mesmo e para seus sucessores.
Mas, para isto, há de se tirar a cabeça do meio dos livros e apostilas pra questionar se realmente todo esse esforço e investimento de tempo não seriam melhor aproveitados em outras áreas de desenvolvimento profissional.
Fonte: Administradores.com
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